segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Livro tenta compreender por que as pessoas acreditam em esquisitices 

por Hélio Schwartsman, da Folha, a propósito de
Livro sobre por que se crê em coisas estranhas inicia coleção cética

A pergunta, que dá título ao primeiro livro do cético Michael Shermer editado no Brasil, não poderia ser mais apropriada.
Há um bocado de gente que nada tem de anormal e, no entanto, participa de crenças muitas vezes absurdas. Compreender as razões do paradoxo não é tarefa pequena. E Shermer, que é também psicólogo e ciclista, se sai muito bem ao explicá-las.
Ele começa com um competente apanhado geral do método científico, explica a diferença entre ciência e pseudociências e traz um inventário das falácias que mais frequentemente nos induzem a erro.
É em seguida que vem a parte mais divertida, quando Shermer se põe a desmontar algumas das "confusões de nossos tempos". As barafundas escolhidas pelo autor são: experiências de quase morte, abduções por alienígenas, o resgate de memórias de abuso infantil, o criacionismo, a negação do holocausto nazista, entre outros.
O texto original é de 1997, e algumas das superstições não envelheceram bem. A história de recuperar memórias reprimidas de maus-tratos e estupros durante a infância foi febre nos EUA nos anos 90, mas não foi tão importante no Brasil.
Já outros temas permanecem assustadoramente presentes. A onda neocriacionista, por exemplo, chegou até nós com um certo atraso em relação aos EUA, mas segue provocando estragos.
Shermer tem uma vantagem comparativa em relação a outros céticos modernos. Ele em nenhum momento debocha das crenças descritas, mesmo as mais exóticas. Diz que tirou essa máxima do filósofo holandês do século 17 Spinoza, que escreveu:
"Tenho me esforçado sempre para não ridicularizar, não deplorar, não desprezar as ações humanas, mas tentar compreendê-las".
O autor conquista a confiança e a simpatia do leitor declarando-se ele próprio um ex-praticante de várias das terapias alternativas que critica no livro. Mesmo no capítulo dedicado ao criacionismo, cujo tema de fundo é a religião, Shermer "pega leve", evitando a propaganda atéia. Ele próprio admite nutrir alguma simpatia para com a religião, reminiscências dos tempos em que era um cristão renascido e graduou-se em teologia antes de migrar para a psicologia.
O ponto alto do livro, porém, é quando ele explica a psicologia da crença e mostra por que, muitas vezes, são as pessoas mais inteligentes que se envolvem com as mais alucinadas esquisitices.

"Pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas porque têm capacidade para defender crenças às quais chegaram por razão não inteligentes", escreve ele.
"Por que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas" [384 págs, R$ 65, ISBN 978-85-85985-30-1].

terça-feira, 27 de março de 2012


A Filosofia é a herança dos "Deuses" para a Humanidade.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Baruch você tinha razão

Spinoza: "Na natureza nada é contigente, mas todas as coisas são determinadas pela necessidade da natureza divina de existir e agir de uma certa maneira/ "In nature there is nothing contingent, but all things are determined from the necessity of the divine nature to exist and act in a certain manner."

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A contemporânea mostra que...


Tanto Frege como Wittgenstein faziam uma distinção profunda entre filosofia e psicologia. Para Frege, a lógica, que estava no coração da filosofia, era uma ciência a priori muito diferente de uma ciência empírica como a psicologia; para Wittgenstein, a filosofia diferia da psicologia porque não era de maneira alguma um tipo de ciência, fosse ela empírica ou a priori. Os filósofos de Oxford dos anos 50 seguiram Wittgenstein neste aspecto; e os seus colegas psicólogos, muito mais interessados nessa altura no comportamento dos animais do que na linguagem humana, tinham todo o gosto em concordar que um hiato profundo separava as duas disciplinas.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Does consciousness exist?

Chegou o momento em que a noção de consciência foi sendo, gradativamente, afastada do campo psicológico. Esta depreciação da consciência no domínio da psicologia tem início com o funcionalismo de William James. Em 1904, no primeiro número do Journal of Philosophy, Psychology and  Scientific Method, ele publica o polêmico artigo A consciência existe? ( Does consciousness exist? ) em que afirma:

"Creio que uma vez evaporada e reduzida a este estado de pureza diáfana, a consciência está bem perto de desaparecer por inteiro. Ela se torna um nome de um não-ser e não tem direito a um lugar entre os princípios primeiros. Aqueles que teimam em aferrar-se a ela, prendem-se a um simples eco, ao vão ruído que deixou atrás dela, na atmosfera filosófica, a alma em vias de desaparecer [...]. De uma vez por todas, parece-me que chegou a hora de descartar a consciência de maneira aberta e universal ( James, 1977 [1904], p.169).

Trecho extraído do artigo de Carlos Diógenes Cortes Tourinho na revista Episteme, Porto Alegre, n.12 intitulado "As controvérsias entre dualistas e materialistas na filosofia da mente contemporânea."

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O que é a filosofia segundo Deleuze

O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos.
O amigo seria o amigo de suas próprias criações? Ou então é o ato do conceito que remete à potência do
amigo, na unidade do criador e de seu duplo? Criar conceitos sempre novos é o objeto da filosofia. É porque o conceito deve ser criado que ele remete ao filósofo como àquele que o tem em potência, ou que tem sua potência e sua competência. Não se pode objetar que a criação se diz antes do sensível e das artes, já que a arte faz existir entidades espirituais, e já que os conceitos filosóficos são também sensibilia. Para falar a verdade, as ciências, as artes, as filosofias são igualmente criadoras, mesmo se compete apenas à filosofia criar conceitos no sentido estrito. Os conceitos não nos esperam inteiramente feitos, como corpos celestes. Não há céu para os conceitos. Eles devem ser inventados, fabricados ou antes criados, e não seriam nada sem a assinatura daqueles que os criam. Nietzsche determinou a tarefa da filosofia quando escreveu: "os filósofos não devem mais contentar-se em aceitar os conceitos que lhes são dados, para somente limpá-los e fazê-los reluzir, mas é necessário que eles comecem por fabricá-los, criá-los, afirmá-los, persuadindo os homens a utilizá-los. Até o presente momento, tudo somado, cada um tinha confiança em seus conceitos, como num dote miraculoso vindo de algum mundo igualmente miraculoso", mas é necessário substituir a confiança pela desconfiança, e é dos conceitos que o filósofo deve desconfiar mais, desde que ele mesmo não os criou (Platão sabia isso bem, apesar de ter ensinado o contrário...) Platão dizia que é necessário contemplar as Idéias, mas tinha sido necessário, antes, que ele criasse o conceito de Idéia. Que valeria um filósofo do qual se pudesse dizer: ele não criou um conceito, ele não criou seus conceitos?
Vemos ao menos o que a filosofia não é: ela não é contemplação, nem reflexão, nem comunicação, mesmo se ela pôde acreditar ser ora uma, ora outra coisa, em razão da capacidade que toda disciplina tem de engendrar suas próprias ilusões, e de se esconder atrás de uma névoa que ela emite especialmente. Ela
não é contemplação, pois as contemplações são as coisas elas mesmas enquanto vistas na criação de seus
próprios conceitos. Ela não é reflexão, porque ninguém precisa de filosofia para refletir sobre o que quer que
seja: acredita-se dar muito à filosofia fazendo dela a arte da reflexão, mas retira-se tudo dela, pois os
matemáticos como tais não esperaram jamais os filósofos para refletir sobre a matemática, nem os artistas
sobre a pintura ou a música; dizer que eles se tornam então filósofos é uma brincadeira de mau gosto, já que
sua reflexão pertence a sua criação respectiva. E a filosofia não encontra nenhum refúgio último na
comunicação, que não trabalha em potência a não ser de opiniões, para criar o "consenso" e não o conceito.
A idéia de uma conversação democrática ocidental entre amigos não produziu nunca o menor conceito; ela
vem talvez dos gregos, mas estes dela desconfiavam de tal maneira, e a faziam sofrer um tratamento tão rude, que o conceito era antes como o pássaro-solilóquio-irônico que sobrevoava o campo de batalha das opiniões rivais aniquiladas (os convidados bêbados do banquete). A filosofia não contempla, não reflete, não
comunica, se bem que ela tenha de criar conceitos para estas ações ou paixões. A contemplação, a reflexão,
a comunicação não são disciplinas, mas máquinas de constituir Universais em todas as disciplinas. Os
Universais de contemplação, e em seguida de reflexão, são como duas ilusões que a filosofia já percorreu em seu sonho de dominar as outras disciplinas (idealismo objetivo e idealismo subjetivo), e a filosofia não se
engrandece mais apresentando-se como uma nova Atenas e se desviando sobre Universais da comunicação
que forneceriam as regras de um domínio imaginário dos mercados e da mídia (idealismo inter-subjetivo).
Toda criação é singular, e o conceito como criação propriamente filosófica é sempre uma singularidade. O
primeiro princípio da filosofia é que os Universais não explicam nada, eles próprios devem ser explicados.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Psykhé

Se a sede da cognoscibilidade está na psykhé, então ela é condição da inteligibilidade de todas as coisas. Ao aventar o “antigo logos”das seitas de mistério, Platão promove uma racionalização e uma nova significação nas noções de iniciação e purificação. O verdadeiro iniciado não é mais o antigo mestre de sabedoria, mas o filósofo cujo “exercício de morte”, meleté thânatou, consiste em estabelecer o primado da reflexão pura sobre o conhecimento sensível.


( Trecho extraído do artigo INTELIGÊNCIA E PSYKHÉ: A EPISTEMOLOGIA DE PLATÃO )


Rúbens Garcia Nunes Sobrinho / professor do curso de Filosofia da UFU